quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Texto Base - Módulo 1 - Parte 3 (Diversidade Cultural)

“Quando perdemos o direito de ser diferentes, perdemos o privilégio de ser livres”
Charles E. Hughes


Com esta frase iniciaremos a seguinte leitura sobre este tema tão rico, neste país que tem origem em diversas etnias.


2. DIVERSIDADE CULTURAL





A diversidade cultural é um fenômeno que sempre acompanhou a humanidade, entretanto, ainda hoje, é um componente da realidade social bastante complexo. No Brasil e no mundo, há diversas tradições culturais, algumas mais popularizadas e outras pouco conhecidas. Algumas valorizadas, outras pouco respeitadas e expostas constantemente ao preconceito, à violência física e, sobretudo a violência simbólica (BOURDIEU; PASSERON, 1975). Diante dessa contradição, propomos algumas questões para pensarmos logo de início a importância da valorização e reconhecimento da diversidade cultural no processo de construção e transformação dos indivíduos e das sociedades, especialmente a partir do ambiente escolar: como compreender os elementos comuns e as singularidades entre as culturas? Como não tornar as diferenças sinônimas de defeitos em relação a um padrão dominante, considerado como parâmetro de “normalidade”? Como ressignificar e desnaturalizar discursos e práticas em torno dos quais os/as discriminados/as são considerados culpados/as pela própria discriminação e/ou pelo estado no qual se encontram? Como lidar com as diferenças e a diversidade cultural na escola?

É exatamente em decorrência desta complexidade que a unidade II (Diversidade cultural: um olhar para as sociedades ocidentais e, em particular, o Brasil) tem como objetivo propiciar algumas reflexões acerca do conceito de cultura e a relação entre o “global” e o “local” para o entendimento das diversas raízes culturais no mundo; a questão das identidades e diferenças enquanto constituintes dos processos de subjetivação; o etnocentrismo, o estereótipo e o preconceito como categorias naturalizantes e determinantes de comportamentos, valores e normas sociais; entre outros conceitos teóricos e históricos que nos permitam analisar criticamente as várias demandas que traduzem a diversidade cultural no mundo.

Esperamos a partir dessas reflexões a consolidação de uma cultura que valorize a diversidade étnico-racial, religiosa, a equidade de gênero, orientação sexual, entre outras, e, sobretudo o combate a qualquer forma de violência e discriminação social.

3.1. Alguns apontamentos conceituais

Cultura

No passado ou no presente, nas mais diversas partes do globo, homens e mulheres nunca deixaram de se organizar em sociedade e de se questionar sobre si e sobre o mundo que os rodeia. Não precisamos recuar tanto no tempo para encontrar diferentes formas de organização social e manifestações culturais: nossos antepassados agiam e pensavam de forma muito diversa da nossa. Num passado não muito distante, a situação da mulher no Brasil, por exemplo, era bastante distinta da atual. Os costumes de muitas famílias da nossa oligarquia rural exigiam que os pais escolhessem aquele que desposaria sua filha. Uma série de fatores influía na decisão dos pais e mães: desde alianças antigas entre as famílias, obrigações recíprocas, promessas feitas, às vezes, antes do nascimento dos filhos e filhas, até mesmo questões como o dote e os interesses econômicos, contando muito pouco o desejo dos filhos e das filhas. Hoje as coisas são bem diferentes e, embora uma série de elementos de diversas ordens interfira na escolha do/a parceiro/a, o desejo individual é representado pela coletividade como decisivo

A diversidade das manifestações culturais se estende não só no tempo, mas também no espaço. Se dirigirmos o olhar para os diferentes continentes, encontraremos costumes que nos parecerão, à luz dos nossos, curiosos ou aberrantes. Do mesmo modo que os povos falam diferentes línguas, eles expressam das formas mais variadas os seus valores culturais. No Brasil, nos deparamos com uma riqueza cultural extraordinária: 200 povos indígenas falando mais de 180 línguas diferentes. Cada nação indígena possui a sua maneira particular de ver o mundo, de organizar o espaço, de construir a sua casa e de marcar os momentos significativos da vida de uma pessoa. Longe de constituírem um todo homogêneo, os povos indígenas possuem particularidades culturais de cada grupo, embora haja uma série de características que os aproximem quando comparados com a sociedade nacional.

A cultura vai além de um sistema de costumes; é objeto de intervenção humana, que faz da vida uma obra de arte, inventável, legível, avaliável, interpretável. Portanto, é preciso questionar discursos e práticas por meio dos quais alguns indivíduos e grupos são tomados como inferiores, anormais, primitivos, e, consequentemente, colocados a marginalidade social.

Identidade e diferença

A temática da identidade e diferença é de suma importância para o entendimento da diversidade cultural. Um fator primordial, no entanto, é a compreensão das várias mudanças socioculturais, econômicas e políticas ocorridas a partir da década de sessenta do século XX. Entre essas mudanças, sejam citadas: as revoluções tecnológicas, o aceleramento da globalização, a insurgência de movimentos sociais libertários e o próprio processo de transformação paradigmática do conhecimento sobre o mundo social. Foram essas transformações sociais que condicionaram uma maior atenção aos discursos e práticas em torno do reconhecimento das “identidades e diferenças”.

O conceito de identidade passou a ser questionado em suas características singulares, integradas, naturalizantes e inalteráveis. Os “novos sujeitos e fenômenos sociais” demandavam uma análise por meio da qual as identidades passassem a ser vistas como “resultados sempre transitórios e fugazes de processos de identificação” (SANTOS, 1993, p. 31), sendo o “mundo global” o grande articulador na produção de subjetividades cada vez mais distintas e plurais.

A dinâmica cultural, o respeito e a valorização da diversidade

O dinamismo da cultura está sempre reinventando tradições e significados, mesclando elementos, incorporando e ressignificando alguns e rechaçando outros. A diversidade cultural é vital para um saudável dinamismo cultural. Diversidade que demanda respeito. Respeito e tolerância são sinônimos? Você percebe alguma conotação negativa no conceito de tolerância? Reflita, dê sua opinião, dialogue com outros professores e professoras cursistas.

Os exemplos oferecidos aqui revelam um dos aspectos centrais da ideia de cultura: seu caráter dinâmico. Muitas vezes associada à ideia de “tradição”, a cultura foi pensada como algo imutável e natural, que tenderia a se reproduzir sem perder suas características. Ora, a cultura, no Brasil, assim como em outros lugares, é dinâmica, muda, se transforma. Isso acontece em meio a um processo muitas vezes caracterizado pela ideia de “globalização”, o que significa, em grande medida, a “ocidentalização” de boa parte do mundo.

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