Boa tarde galera
Mais um texto para ser apreciado nesta sexta-feira.
Gênero e Outras Formas de Classificação Social
O olhar que lançamos às diferenças existentes entre nós,
sejam elas de pertencimento à determinada classe social,
gênero, raça, etnia ou orientação sexual, é cultural e
socialmente estabelecido. adefesa dos direitos humanos
supõe uma postura política e ética na qual todos/as têm
igualmente o direito de ser respeitados/as e tratados/
as com dignidade, sejam homens, mulheres, negros/as,
brancos/as, indígenas, homossexuais, heterossexuais,
bissexuais, travestis,
transexuais. Tais diferenças
não podem ser atribuídas
à natureza, à biologia,
mas sim ao processo de
socialização que nos ensina a
nos comportarmos segundo
determinado padrão que, no
caso de nossa discussão, é
de gênero.
Todas essas formas de classificação interagem simultaneamente
no mundo social, fazendo com que certos entrecruzamentos
sejam objeto de um tratamento menos igualitário, mais desigual do que outros. assim,
se um determinado indivíduo é homem, negro e de classe popular, receberá um tipo de
avaliação distinto (possivelmente desvantajoso) em relação ao de uma mulher branca e
de classe social alta. este exemplo assinala que a relativa “desvantagem” do gênero em
uma sociedade machista pode ser neutralizada pela classificação de raça/etnia e/ou pelo
pertencimento a uma classe social considerada superior.
Como, então, aprendemos a conformar nosso olhar e terminamos por tratar homens e
mulheres de modo distinto? Às vezes, com nossos pequenos gestos ou atitudes cotidianas,
sem perceber, reforçamos desigualdades e a hierarquia de gênero, para não falar em
preconceitos e estereótipos.
A antropologia, disciplina que estuda a diversidade cultural das sociedades, sustenta que
a dimensão biológica da espécie humana é transformada pela necessidade de capacitação
cultural, essencial à sua sobrevivência. É a cultura que humaniza a espécie. Pode se
perceber que os homens são muito diferentes de outros homens em outros lugares. Também
as mulheres diferem bastante de outras mulheres em diferentes partes do mundo. eo
mesmo acontece com as relações entre os gêneros, que variam nas muitas sociedades do
planeta.
O papel que a biologia desempenha na determinação
de comportamentos sociais é fraco – a espécie humana
é essencialmente dependente da socialização. Contudo,
de acordo com o senso comum, as condutas de homens
e mulheres originam-se de uma dimensão natural (os
instintos) inscrita nos corpos com que cada indivíduo
nasce. acredita-se, com freqüência, que existe um tipo de
personalidade ou padrão de comportamento para cada um
dos sexos. Na cultura ocidental, supõe-se que o masculino
seja dotado de maior agressividade e o feminino, de maior
suavidade e delicadeza.
Na década de 1930, a antropóloga americana margaret
mead (1901-1978) estudou esta questão em outras culturas
e descobriu que não existe uma relação direta entre o sexo
do corpo e a conduta social de homens e mulheres. mead
revolucionou sua área de pesquisa ao torná-la popular e ao
alcance dos leigos. Seu objetivo era dar às pessoas comuns
uma ferramenta para entenderem seu lugar no mundo. ela
demonstrou que os papéis sexuais eram determinados pelas
expectativas sociais e provou a importância das relações
raciais para a conservação da espécie. acreditava que o
objetivo da antropologia era melhorar a raça humana e,
para isso, defendia que o mundo moderno tinha muito a
aprender com outras civilizações. em inúmeros livrose
artigos, escreveu sobre os direitos da mulher e contra o
racismo e o preconceito sexual.
O modelo de educação de uma pessoa, aquilo que ela
aprendeu sobre o que é certo e errado na esfera sexual,influenciará sua sexualidade, seus sentimentos e atração por outras pessoas, sua orientação
sexual. assim, algo considerado adequado num meio social é passível de ser inadequado em
outro. Gestos, modos de se vestir, de sentir ou falar podem ser considerados femininos em
alguns lugares, masculinos ou mesmo indiferentes em outros. esta variação corresponde
à cultura.
Sexualidade e gênero são dimensões diferentes que integram a identidade pessoal de cada
indivíduo. ambos surgem, são afetados e se transformam conforme os valores sociais
vigentes em uma dada época. São partes, assim, da cultura, construídas em determinado
período histórico, ajudando a organizar a vida individual e coletiva das pessoas. em
síntese, é a cultura que constrói o gênero, simbolizando as atividades como masculinas e
femininas.
Por fim, importa reter duas características fundamentais implícitas na noção de gênero:
sua arbitrariedade cultural, ou seja, o fato de o gênero só poder ser compreendido em
relação a uma cultura específica, pois Ele só é capaz de ter sentidos distintos conforme
o contexto sociocultural em que se manifesta;
o caráter necessariamente relacional das categorias de gênero, isto é, só é possível
pensar e/ou conceber o feminino em relação ao masculino e vice-versa.
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