“Quando perdemos o direito de ser diferentes, perdemos o privilégio de ser livres”
Charles E. Hughes
Com esta frase iniciaremos a seguinte leitura sobre este tema tão rico, neste país que tem origem em diversas etnias.
2. DIVERSIDADE CULTURAL
A diversidade cultural é um fenômeno que sempre acompanhou a humanidade,
entretanto, ainda hoje, é um componente da realidade social bastante complexo. No
Brasil e no mundo, há diversas tradições culturais, algumas mais popularizadas e outras
pouco conhecidas. Algumas valorizadas, outras pouco respeitadas e expostas
constantemente ao preconceito, à violência física e, sobretudo a violência simbólica
(BOURDIEU; PASSERON, 1975). Diante dessa contradição, propomos algumas
questões para pensarmos logo de início a importância da valorização e reconhecimento
da diversidade cultural no processo de construção e transformação dos indivíduos e das
sociedades, especialmente a partir do ambiente escolar: como compreender os
elementos comuns e as singularidades entre as culturas? Como não tornar as diferenças
sinônimas de defeitos em relação a um padrão dominante, considerado como parâmetro
de “normalidade”? Como ressignificar e desnaturalizar discursos e práticas em torno
dos quais os/as discriminados/as são considerados culpados/as pela própria
discriminação e/ou pelo estado no qual se encontram? Como lidar com as diferenças e a
diversidade cultural na escola?
É exatamente em decorrência desta complexidade que a unidade II
(Diversidade cultural: um olhar para as sociedades ocidentais e, em particular, o Brasil)
tem como objetivo propiciar algumas reflexões acerca do conceito de cultura e a
relação entre o “global” e o “local” para o entendimento das diversas raízes culturais
no mundo; a questão das identidades e diferenças enquanto constituintes dos processos
de subjetivação; o etnocentrismo, o estereótipo e o preconceito como categorias
naturalizantes e determinantes de comportamentos, valores e normas sociais; entre
outros conceitos teóricos e históricos que nos permitam analisar criticamente as várias
demandas que traduzem a diversidade cultural no mundo.
Esperamos a partir dessas reflexões a consolidação de uma cultura que valorize
a diversidade étnico-racial, religiosa, a equidade de gênero, orientação sexual, entre
outras, e, sobretudo o combate a qualquer forma de violência e discriminação social.
3.1. Alguns apontamentos conceituais
Cultura
No passado ou no presente, nas mais diversas partes do globo, homens e
mulheres nunca deixaram de se organizar em sociedade e de se questionar sobre si e
sobre o mundo que os rodeia. Não precisamos recuar tanto no tempo para encontrar
diferentes formas de organização social e manifestações culturais: nossos antepassados
agiam e pensavam de forma muito diversa da nossa. Num passado não muito distante, a
situação da mulher no Brasil, por exemplo, era bastante distinta da atual. Os costumes
de muitas famílias da nossa oligarquia rural exigiam que os pais escolhessem aquele que
desposaria sua filha. Uma série de fatores influía na decisão dos pais e mães: desde
alianças antigas entre as famílias, obrigações recíprocas, promessas feitas, às vezes,
antes do nascimento dos filhos e filhas, até mesmo questões como o dote e os interesses
econômicos, contando muito pouco o desejo dos filhos e das filhas. Hoje as coisas são
bem diferentes e, embora uma série de elementos de diversas ordens interfira na escolha
do/a parceiro/a, o desejo individual é representado pela coletividade como decisivo
A diversidade das manifestações culturais se estende não só no tempo, mas
também no espaço. Se dirigirmos o olhar para os diferentes continentes, encontraremos
costumes que nos parecerão, à luz dos nossos, curiosos ou aberrantes. Do mesmo modo
que os povos falam diferentes línguas, eles expressam das formas mais variadas os seus
valores culturais. No Brasil, nos deparamos com uma riqueza cultural extraordinária:
200 povos indígenas falando mais de 180 línguas diferentes. Cada nação indígena
possui a sua maneira particular de ver o mundo, de organizar o espaço, de construir a
sua casa e de marcar os momentos significativos da vida de uma pessoa. Longe de
constituírem um todo homogêneo, os povos indígenas possuem particularidades
culturais de cada grupo, embora haja uma série de características que os aproximem
quando comparados com a sociedade nacional.
A cultura vai além de um sistema de costumes; é objeto de intervenção
humana, que faz da vida uma obra de arte, inventável, legível, avaliável, interpretável.
Portanto, é preciso questionar discursos e práticas por meio dos quais alguns indivíduos
e grupos são tomados como inferiores, anormais, primitivos, e, consequentemente,
colocados a marginalidade social.
Identidade e diferença
A temática da identidade e diferença é de suma importância para o
entendimento da diversidade cultural. Um fator primordial, no entanto, é a compreensão
das várias mudanças socioculturais, econômicas e políticas ocorridas a partir da década
de sessenta do século XX. Entre essas mudanças, sejam citadas: as revoluções
tecnológicas, o aceleramento da globalização, a insurgência de movimentos sociais
libertários e o próprio processo de transformação paradigmática do conhecimento sobre
o mundo social. Foram essas transformações sociais que condicionaram uma maior
atenção aos discursos e práticas em torno do reconhecimento das “identidades e
diferenças”.
O conceito de identidade passou a ser questionado em suas características
singulares, integradas, naturalizantes e inalteráveis. Os “novos sujeitos e fenômenos
sociais” demandavam uma análise por meio da qual as identidades passassem a ser
vistas como “resultados sempre transitórios e fugazes de processos de identificação”
(SANTOS, 1993, p. 31), sendo o “mundo global” o grande articulador na produção de
subjetividades cada vez mais distintas e plurais.
A dinâmica cultural, o respeito e a valorização da diversidade
O dinamismo da cultura está sempre reinventando tradições e significados,
mesclando elementos, incorporando e ressignificando alguns e rechaçando outros. A
diversidade cultural é vital para um saudável dinamismo cultural. Diversidade que
demanda respeito. Respeito e tolerância são sinônimos? Você percebe alguma
conotação negativa no conceito de tolerância? Reflita, dê sua opinião, dialogue com
outros professores e professoras cursistas.
Os exemplos oferecidos aqui revelam um dos aspectos centrais da ideia de
cultura: seu caráter dinâmico. Muitas vezes associada à ideia de “tradição”, a cultura foi
pensada como algo imutável e natural, que tenderia a se reproduzir sem perder suas
características. Ora, a cultura, no Brasil, assim como em outros lugares, é dinâmica,
muda, se transforma. Isso acontece em meio a um processo muitas vezes caracterizado
pela ideia de “globalização”, o que significa, em grande medida, a “ocidentalização” de
boa parte do mundo.
Muito bom este comentário puderá os povos se aceitarem mais.
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